Se o Eduardo Galeano - grande jornalista uruguaio, escritor, soldado das letras, que viveu sangrentas ditaduras - diz que primeira vez da violência é como a primeira que se faz amor”, eu, humildemente digo que ver um bom filme é como ter sexo de primeira. É saber tirar proveito do melhor viver...
Minto?
O cinema é intenso, é íntimo, é ubíquo, já dizia Henri Agel, em algum lugar. Ver um bom filme é acordar os sentidos emudecidos pela cultura de massa e seu "nhé-nhé-nhém" audiovisual. Ver um filmes é presenciar a vida, ali, resplandecendo verossimilhança, ou pensar “_Que legal como funciona a mente dessa criatura!”, quando se depara com um roteiro super original, bizarro ou surreal.
Cheios de surpresas, bom cinema e sexo de primeira se encontram porque também, afinal, all art is erotic , e a sétima enobrece nossos sentidos, quando transforma relações também em densas performances.
Pode-se decompor a vida, como se decompõe um filme, e conceituá-la a partir de imagens e sons, observando a estrutura que se configurou, promovendo a interpretação. Pode-se criticar a vida, como se critica uma obra, atribuindo verdadeiro valor, avaliando.
Ricciotto Canudo tratava a sétima arte como a tradução da vida, que nos expressaria melhor na babel de idiomas e culturas - aquela arte que daria a conhecer mais precisamente os nossos universos de fora e de dentro, se reproduzindo em um idioma que foge de qualquer desconhecimento porque diz de nós, ali, (coreo)grafados em luz: o que somos e sonhamos. É um contrato tácito entre realidade e fantasia, que faz submergir nosso cartesianismo durante um tempo quase pré-determinado. Aventuramo-nos assim pelos caminhos propostos por um roteiro, que entre fim e começo, possui uma narrativa envolvente, apaixonante, surpreendente (ou não).
Eu, humildemente digo que ver um bom filme (melhor ainda no cinema) é como ter sexo de primeira. Salva qualquer tarde chuvosa, curitibana ou não, qualquer dia maçante, qualquer hora-morta, ajuda a manter a (in)sanidade e o humor, faz brincar nossos hormônios e nos rapta do cotidiano enfadonho.
Minto?
(Vamos ver um filme?)
Citados no texto: Gustav Klimt Francis Vanoye Delluc Manuela Penafria.